Os formadores de opinião brasileiros estão divididos. A crise do Mensalão acirrou ânimos e quase ninguém ficou imparcial nesta briga. A grande mídia ultrapassou o papel de fiscalização que gostava de se atribuir e passou, quase sem disfarçe, a adotar um comportamento de oposição ao governo. Do outro lado, jornalistas e militantes governistas ou independentes encontraram abrigo na blogosfera e fizeram desta sua trincheira no embate político, com o radicalismo de um lado alimentando o do outro.
A doença de Lula foi como jogar mais lenha nesta fogueira. Declarações infelizes de jornalistas, comentários preconceituosos de internautas comuns ou a soldo provocaram reação dos governistas.
Aqui não se trata de discutir o mérito dos comentários divulgados, mas tentar extrair os pontos positivos do ocorrido.
A primeira contribuição dada ao debate público foi chamar a atenção para o tratamento de saúde em geral e do cancer, em particular, pelo SUS. É um ótimo início de discussão, cujo desenrolar pode ser a recriação de um imposto para a saúde. O tiro dos detratores de Lula pode sair pela culatra.
Outra questão positiva foram as manifestações primeiro da oposição e depois de jornalistas mais equilibrados.
FHC declarou que não concordava com os comentários e faria questão de conversar com Lula pelo telefone assim que possível para desejar melhoras.
O PSDB pronunciou-se de forma oficial através de seu presidente Sérgio Guerra.
Jornalistas também passaram a se pronunciar, talvez até a revelia de seus patrões, fazendo alguns elogios a Lula que confesso não ter visto anteriormente de alguns destes jornalistas.
Não vou entrar no mérito se estes mesmos jornalistas haviam contribuído anteriormente para o acirramento do debate, seja ativamente, seja como cúmplices silenciosos de opiniões de colegas e patrões.
Também não me interessa divagar sobre a sinceridade das palavras. Dos jornalistas que listarei a seguir, não me lembro de anteriormente haver lido, visto ou ouvido comentários que caracterizassem a postura atual como hipócrita. O que me interessa é que estas manifestações podem contribuir para amenizar o debate político no Brasil e conscientizar outros jornalistas a não incentivar o ódio mútuo.
Enfim, esperar que da intolerância comece a florescer a tolerância.
Seguem os comentários que eu teria orgulho em assinar e vale a pena guardar:
"Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social."
Clóvis Rossi
O câncer do preconceito
"Parte da população brasileira, especialmente de São Paulo, parece não aceitar que um operário, nordestino e sem educação formal além do curso de torneiro-mecânico, chegue à Presidência da República e ainda por cima dê certo, aos olhos de uns 80% do eleitorado, conforme todas as pesquisas."
Kennedy Alencar
"80% de uma avaliação ótimo e bom não é resultado de quem manipulou o povo é um resultado de quem melhorou a vida do povo, principalmente os mais pobres."
Bob Fernandes
"O ódio e o ressentimento de certos setores de oposicão, ou ditos da oposição, contra Lula é tamanho que chega a ser constrangedor, alem de ser burrice, de ser um brutal erro politico."
Maria Inês Nassif
"Uma autoridade, principalmente se se tornou autoridade pelo voto, não é simplesmente uma pessoa física. Ela é representante da maioria dos eleitores de um país, e se deve respeito à maioria. Simples assim. "
Luis Nassif
A violência continua latente, na política e na mídia, no futebol e nos salões mais sofisticados. Graças ao trabalho das últimas décadas, o Brasil tornou-se respeitado no mundo. Falta respeitar-se internamente.Nessa longa transição rumo à democracia, ainda haverá o devido reconhecimento ao papel de FHC e Lula.
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M. Inês Nassif |
Luis Nassif
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Dimenstein |
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Rossi |
Fernandes
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Alencar |
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