terça-feira, novembro 1

Minha Formação Política - Capitulo III – Um Cristão na Arena dos Leões


O Golpe do Milênio
O capítulo anterior terminou com minha iniciação ao Camaleão e Chiclete com Banana graças às privatizações de Fernando Henrique Cardoso. Em 2000, deixaria Salvador de volta a Belo Horizonte, mas não antes de curtir o Reveillon em um centro de processamento de dados, torcendo para que os arsenais nucleares mundiais não explodissem por falha de sistemas. Porém, como ficou patente após a meia-noite, o Bug do Milênio foi um dos maiores engodos comerciais da história, gerando bilhões em negócios para as consultorias de TI.



"Aguarde que estaremos
analisando seu problema!"
De Belo Horizonte, só voltaria a sair em 2004, quando novamente a política influenciou meu destino. As privatizações das teles foram feitas, entre outras coisas, para eliminar o monopólio estatal e propiciar competição no mercado de telefonia (no meu caso, móvel). O Brasil foi dividido em 10 áreas geográficas, contando cada uma inicialmente com duas e posteriormente quatro frequências a serem leiloadas. No total, seriam 40 operadoras. Na teoria, claro, porque na prática não havia todo este capital no mercado e, assim que a legislação permitiu, as empresas consolidaram-se chegando a nossa atual situação de oligopólio com 4 operadoras de atuação nacional e com a virtual eliminação das empresas regionais. Nesta consolidação, também fui afetado sendo transferido para o escritório central de uma das operadoras, no Rio de Janeiro.

Hábito nosso, luxo europeu
Durante o período de 1998 a 2004, trabalhando para uma empresa multinacional com a presença constante de executivos e técnicos estrangeiros, o que mais me  chamou a atenção foi o prazer que a grande maioria deles tinha em permanecer no Brasil. Claro que para muitos, esta  transferência, por prazos que variavam caso a caso, coincidia com melhores condições financeiras. Mas o fator fundamental é que 
Não duvide que a Jennifer
Aniston faça sua própria faxina
O Super Herói brasileiro
não veio dos quadrinhos
as condições de vida para a classe média alta brasileira são melhores que para os moradores de países do primeiro mundo. A vida no Brasil, para este extrato, é barata pois moradia, alimentação, serviços, turismo e lazer tem preços incomparavelmente mais baixos que na Europa ou EUA. Como visto no captítulo II, nestes locais trabalhadores para serviços domésticos são luxos só acessíveis regularmente a famílias de poder aquisitivo muito alto. Educação e Saúde públicas no Brasil são ruins, mas a classe média alta pode pagar planos de saúde e escolas particulares bem razoáveis. Os principais itens comparativamente mais caros no Brasil em relação a EUA ou Europa são os automóveis e eletrônicos, mas esta diferença é compensada pela escandalosamente alta taxa de juros brasileira, que nos permite economizar o suficiente para comprá-los. O calcanhar de Aquiles para nós, reconheço, é a segurança pública. Mas ela não seria consequência da desigualdade que nos proporciona os benefícios citados anteriormente?

A minha alegria
atravessou o mar
Por questões pessoais, decidi retornar a Belo Horizonte no ano seguinte, não sem antes, aproveitar a estada no Rio de Janeiro para desfilar pelo Salgueiro na Marquês de Sapucaí. De volta, passei a atuar como consultor em desenvolvimento de sistemas voltados a telecomunicações. Como as teles já estavam concentradas em São Paulo e Rio de Janeiro, passei a ter que trabalhar fora de Belo Horizonte mas, desta vez, retornando para casa nos finais de semana. Minhas viagens iniciaram-se em 2005, tendo atuado primeiramente no Rio de Janeiro até novembro e, a partir daí, em Santo André-SP.

Que vergonha, PT!!!!
Em 07 de junho de 2005, Roberto Jefferson dá entrevista à Folha de São Paulo. Jefferson disse que congressistas aliados recebiam o que chamou de um "mensalão" de R$ 30 mil do tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Em troca, os deputados apoiavam as votações de interesse do Executivo. Explode o que seria chamado “o maior escândalo de corrupção da história do Brasil”. Pessoalmente, decepcionei-me com o PT, apesar de nunca ter acreditado que um governo petista seria livre de corrupção, mas não imaginava que existisse um esquema tão bem montado para arrecadação de fundos para campanhas eleitorais. Confesso ter tido a ilusão que a evidente melhoria de condições materiais do partido se davam pela arrecadação do dízimo, turbinada pela ocupação por petistas dos cargos de confiança da máquina pública. Tolinho eu fui. De qualquer jeito, não estava vendo nada de muito novo na política brasileira, a não ser que a corrupção saía um pouco do esquema habitual de empreiteiras e passava para as agências de publicidade. Lembro-me de ter visto uma manchete em um jornal muitos tons acima do que normalmente era feito no governo FHC e comentei para um de meus colegas de trabalho:  “O PT é o único que não  pode roubar”.

Necessário para garantir
a estabilidade econômica!
Meu círculo de relacionamentos em São Paulo em São Paulo, porém, mostrou-se escandalizado. Com a  campanha eleitoral de 2006 e a efervescência criada por Roberto Jefferson, as conversas sobre política voltaram ao meu cotidiano e pude acompanhar, in-loco, a explosão de ódio contra Lula e o PT. Parecia que a corrupção acabara de ser inventada no Brasil e que o governo era o pior da história. De minha parte, depois de fazer uma pequena reflexão, optei por manter meu voto em Lula. A racionalidade por trás foi que a corrupção, tolerada no governo FHC, não poderia ser usada para derrubar o primeiro governo em muitos anos a efetivamente priorizar políticas de distribuição de renda. A melhoria econômica começava a se evidenciar, parecendo confirmar o ideal cepalino do fortalecimento do mercado interno como caminho para o crescimento econômico e a diminuição das desigualdades. Alguns companheiros dos comícios da campanha de 89, já decepcionados com a manutenção da política de juros altos, não resistiram à segunda decepção e optaram por outros candidatos no primeiro turno de 2006.

"Se o Brasil não for para cada um
 não vai ser pra nenhum"
Eleitor solitário de Lula, ouvi argumentos de todo o tipo como o que a política econômica (leia-se Bolsa-Família) não seria sustentável ou o que o governo Lula administrativamente não era ruim, mas a corrupção não deveria ser admitida. O que me tirou do sério, contudo, foi a resposta recebida quando perguntei a um amigo de Santos, veemente crítico do governo, em que a vida dele tinha piorado com a administração Lula. Nunca consegui esquecer a maneira como respondeu, jogando os braços para o ar num gesto bem infantil e dizendo jovialmente: “Sei lá, deve ter piorado, ele só faz coisa pro Nordeste!!”. Não resisti, bradei alguma coisa que hoje não me lembro e afastei-me exaltado com uma frase que revelava ao mesmo tempo ignorância e egoísmo.

Até aquele momento, minhas opiniões eram baseadas em um acompanhamento não muito aprofundado do noticiário. Com o imbróglio, prometi-me estar sempre bem informado para não correr o risco de, eventualmente, emitir uma opinião tão rasa. Como fiz isso é, entretanto, assunto para o próximo capítulo!

Minha Formação Política

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