O Golpe do Milênio |
O capítulo anterior terminou com minha iniciação ao Camaleão e Chiclete com Banana graças às privatizações de Fernando Henrique Cardoso. Em 2000, deixaria Salvador de volta a Belo Horizonte, mas não antes de curtir o Reveillon em um centro de processamento de dados, torcendo para que os arsenais nucleares mundiais não explodissem por falha de sistemas. Porém, como ficou patente após a meia-noite, o Bug do Milênio foi um dos maiores engodos comerciais da história, gerando bilhões em negócios para as consultorias de TI.
"Aguarde que estaremos analisando seu problema!" |
De Belo Horizonte, só voltaria a sair em 2004,
quando novamente a política influenciou meu destino. As privatizações das teles
foram feitas, entre outras coisas, para eliminar o monopólio estatal e
propiciar competição no mercado de telefonia (no meu caso, móvel). O Brasil foi
dividido em 10 áreas geográficas, contando cada uma inicialmente com duas e
posteriormente quatro frequências a serem leiloadas. No total, seriam 40
operadoras. Na teoria, claro, porque na prática não havia todo este capital no
mercado e, assim que a legislação permitiu, as empresas consolidaram-se
chegando a nossa atual situação de oligopólio com 4 operadoras de atuação
nacional e com a virtual eliminação das empresas regionais. Nesta consolidação,
também fui afetado sendo transferido para o escritório central de uma das
operadoras, no Rio de Janeiro.
Hábito nosso, luxo europeu |
Durante o período de 1998 a 2004, trabalhando para uma empresa multinacional com a presença constante de executivos e técnicos estrangeiros, o que mais me chamou a atenção foi o prazer que a grande maioria deles tinha em permanecer no Brasil. Claro que para muitos, esta transferência, por prazos que variavam caso a caso, coincidia com melhores condições financeiras. Mas o fator fundamental é que
Não duvide que a Jennifer Aniston faça sua própria faxina |
O Super Herói brasileiro não veio dos quadrinhos |
A minha alegria atravessou o mar |
Por questões pessoais, decidi retornar a Belo
Horizonte no ano seguinte, não sem antes, aproveitar a estada no Rio de Janeiro
para desfilar pelo Salgueiro na Marquês de Sapucaí. De volta, passei a atuar
como consultor em desenvolvimento de sistemas voltados a telecomunicações. Como
as teles já estavam concentradas em São Paulo e Rio de Janeiro, passei a ter
que trabalhar fora de Belo Horizonte mas, desta vez, retornando para casa nos
finais de semana. Minhas viagens iniciaram-se em 2005, tendo atuado
primeiramente no Rio de Janeiro até novembro e, a partir daí, em Santo
André-SP.
Que vergonha, PT!!!! |
Em 07 de junho de 2005, Roberto Jefferson dá
entrevista à Folha de São Paulo. Jefferson disse que congressistas aliados
recebiam o que chamou de um "mensalão" de R$ 30 mil do tesoureiro do
PT, Delúbio Soares. Em troca, os deputados apoiavam as votações de interesse do
Executivo. Explode o que seria chamado “o maior escândalo de corrupção da
história do Brasil”. Pessoalmente, decepcionei-me com o PT, apesar de nunca ter
acreditado que um governo petista seria livre de corrupção, mas não imaginava
que existisse um esquema tão bem montado para arrecadação de fundos para
campanhas eleitorais. Confesso ter tido a ilusão que a evidente melhoria de
condições materiais do partido se davam pela arrecadação do dízimo, turbinada
pela ocupação por petistas dos cargos de confiança da máquina pública. Tolinho
eu fui. De qualquer jeito, não estava vendo nada de muito novo na política
brasileira, a não ser que a corrupção saía um pouco do esquema habitual de
empreiteiras e passava para as agências de publicidade. Lembro-me de ter visto
uma manchete em um jornal muitos tons acima do que normalmente era feito no
governo FHC e comentei para um de meus colegas de trabalho: “O PT é o único que
não pode roubar”.
Necessário para garantir a estabilidade econômica! |
Meu círculo
de relacionamentos em São Paulo em São Paulo, porém, mostrou-se escandalizado.
Com a campanha eleitoral de 2006 e a efervescência
criada por Roberto Jefferson, as conversas sobre política voltaram ao meu
cotidiano e pude acompanhar, in-loco, a explosão de ódio contra Lula e o PT.
Parecia que a corrupção acabara de ser inventada no Brasil e que o governo era
o pior da história. De minha parte, depois de fazer uma pequena reflexão, optei
por manter meu voto em Lula. A racionalidade por trás foi que a corrupção, tolerada no governo FHC, não poderia ser usada para derrubar o primeiro governo em
muitos anos a efetivamente priorizar políticas de distribuição de renda. A
melhoria econômica começava a se evidenciar, parecendo confirmar o ideal
cepalino do fortalecimento do mercado interno como caminho para o crescimento econômico e a diminuição das desigualdades. Alguns
companheiros dos comícios da campanha de 89, já decepcionados com a manutenção
da política de juros altos, não resistiram à segunda decepção e optaram por
outros candidatos no primeiro turno de 2006.
"Se o Brasil não for para cada um não vai ser pra nenhum" |
Eleitor
solitário de Lula, ouvi argumentos de todo o tipo como o que a política econômica
(leia-se Bolsa-Família) não seria sustentável ou o que o governo Lula administrativamente
não era ruim, mas a corrupção não deveria ser admitida. O que me tirou do
sério, contudo, foi a resposta recebida quando perguntei a um amigo de Santos,
veemente crítico do governo, em que a vida dele tinha piorado com a
administração Lula. Nunca consegui esquecer a maneira como respondeu,
jogando os braços para o ar num gesto bem infantil e dizendo jovialmente: “Sei
lá, deve ter piorado, ele só faz coisa pro Nordeste!!”. Não resisti, bradei
alguma coisa que hoje não me lembro e afastei-me exaltado com uma frase que
revelava ao mesmo tempo ignorância e egoísmo.
Até
aquele momento, minhas opiniões eram baseadas em um acompanhamento não muito
aprofundado do noticiário. Com o imbróglio, prometi-me estar sempre bem informado para não correr o risco de, eventualmente, emitir uma opinião tão rasa.
Como fiz isso é, entretanto, assunto para o próximo capítulo!
Minha
Formação Política
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