sexta-feira, novembro 25

Violência Contra Mulher - O Papel da Mídia


 Adjútor Alvim*

Hoje, 25 de novembro, é o Dia Internacional da Luta Contra a Violência à Mulher. Esta campanha me remeteu a alguns questionamentos que fiz ao refletir sobre as ações afirmativas para negros e sobre a campanha da Gisele Bundchen para a Hope. Foram eles:


  • as cotas nas universidades embora tenham sua utilidade para elevar o nível sócio-econômico dos indivíduos beneficiados, trazem o risco de contribuir para o desaparecimento da cultura negra no Brasil, uma vez que os afro-brasileiros estariam sendo admitidos em uma instituição frequentada preponderantemente por indivíduos de cultura euro-centrada?
  • baseado na questão anterior, seria suficiente elaborar políticas de cotas que beneficiassem economicamente segmentos sociais a médio/longo e alguns indivíduos no curto prazo mas que levasse a uma perda de identidade cultural destes indivíduos e segmentos? A imposição da cultura européia não seria a forma mais eficiente de garantir aos seus indivíduos uma superioridade socio-econômica sobre os demais e a mais enraizada causa da discriminação pela cor da pele?
  • uma estratégia necessária não seria adotar políticas de incentivo à mídia para divulgação de valores culturais não europeus e trabalhar para eliminar do consciente coletivo a visão de superioridade e/ou inferioridade de povos e culturas? De papéis superiores e subordinados reservados a grupos específicos da sociedade?
Em resumo, a mídia não seria o grande campo de batalha das ações afirmativas e, mais que a igualdade sócio-econômica, o objetivo não deveria ser a busca da criação de um inconsciente coletivo de "desieraquização" social e cultural?

O polêmico comecial
Logo em seguida, a sociedade brasileira passa a debater a lingerie da Gisele Bundchen, ou melhor, a representação, em um comercial de televisão, de uma bela esposa ensinando a outras mulheres a maneira correta de dar conhecimento aos maridos (sendo ele o provedor do casal) más notícias. Esta maneira correta seria fazer a comunicação trajada em lingerie, evidentemente da marca que fazia a publicidade.

A minha primeira impressão sobre o comercial é que se tratava de uma publicidade bem-humorada que brincava com algumas situações cotidianas em que o expediente do comercial é,  de fato, usado por muitas mulheres para conseguir seus objetivos, às vezes não tão prosaicos quantos os representados.

Amélia na publicidade...
Aprofundando a reflexão, passei a observar a campanha sob o prisma dela estar contribuindo para a perpetuação do estereótipo da mulher economicamente dependente do homem e obrigada a usar do apelo sexual como arma obtenção de objetivos. 

Alertado por uma comentarista em um blog, tomei consciência que não necessariamente os objetivos que a mulher estaria buscando fossem tão inofensivos como o comercial leva pensar. 

... poderosa no mundo.
Por tratar-se da figura de Gisele Bundchen em, situações que apresentavam o casal como tendo condições sócio-econômica privilegiadas, não fui levado, por puro preconceito, a pensar que a esposa poderia estar tendo que agir motivada pelo medo de uma agressão física, hipótese plenamente plausível em um contexto onde é financeiramente dependente e sexualmente submissa ao marido.


Foi, portanto,  na mídia que se cruzaram-se as linhas de raciocínio das políticas de ações afirmativas  para negros e dos comerciais de lingerie. Amadureceu ainda mais em meu pensamento, a idéia de que a mídia deve ser o centro do debate da discussão das diversas formas de incentivo à diversidade e tolerância com a busca de eliminação de estereótipos (a mulher submissa) ou construção de identidades culturais (negros).

Mas ainda perguntava-me se deve haver alguma espécie de regulação voltada especificamente para este fim. Esta dúvida foi bastante diminuída após assistir a este vídeo recebido via uma rede social:


 
Trata-se trailer de um documentário sobre o tratamento das mulheres na mídia, podendo servir como excelente ponto de partida para a discussão e convencimento que uma regulação pode ser útlil para atingirmos uma sociedade mais igualitária.

Algumas frases do vídeo:

"You cannot be what you cannot see"

"The midia can awaken people and change minds depending on who is piloting the plane"

"Little boys and little girls when they are seven years old  in equal number want to be president of the United States when they grow up. But then you ask the same question when they are fifteen and you see this massive gap emerging."

A questão já está posta há algum tempo. Cabe à sociedade repondê-la.

*Adjútor Alvim é o "Editor" do blog Casa de Tolerância

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