sábado, dezembro 3

Blade Runner e o Capital Humano


Adjútor Alvim*

Capital Humano é hoje um jargão corporativo para a força de trabalho. O filme Blade Runner (Ridley Scott, 1982) tem uma visão interessante e ainda atual de como nossa sociedade trata este assunto.

No filme, uma introdução escrita nos conta que os replicantes, criados biogeneticamente à imagem e semelhança dos seres humanos, rebeleram-se e tiveram sua sentença de morte e extinção decretada.

Hanna e Hauer: amor e guerra
Produtos comerciais de mega corporações, os replicantes são fisiológica e morfologicamente idênticos aos indivíduos da raça humana.  São mais fortes que os homens e,  no mínimo, tão inteligentes quanto. Suas especializações e personalidades formadas de acordo com o tipo de atuação que deles se espera. O personagem de Rutger Hauer é um modelo militar, enquanto Pris, a personagem de Daryl Hannah, é definida como "um modelo básico de prazer".

No Varejo ou Para o Varejo?
Ou seja, uma empresa privada produz unidades autônomas capazes de substituir os seres humanos no mercado de trabalho. Não são indivíduos que estão sendo criados, mas braços mais eficientes para a produção. Uma opção mais vantajosa que a simples robotização, visto serem os replicantes também são consumidores e realimentam o ciclo capitalista.

Tyrell, o Capitalista
Adicionalmente,  as grandes corporações podem planejar e escolher as características de cada replicante determinando o perfil comportamental de seus trabalhadores/consumidores.

Um bálsamo para o grande capital, um atentado contra a individualidade humana.

A sociedade é dominada pelo grande capital que vê os seres humanos como unidades produtoras e passíveis de substituição pela tecnologia. Preferencialmente com perfis pessoais modelados de acordo com seus interesses.

Ela existe pra te prender
O único organismo estatal presente é a polícia, chamada para garantir o cumprimento da pena de extinção dos replicantes. Isso faz pensar que o filme veja a repressão e a manutenção da disciplina da força de trabalho como uma das funções mais importantes do estado.

Muito velho
Sem os replicantes, as corporações voltam a precisar dos seres humanos para explorar as colônias extra-terrestres e anúnicios propagam as grandes oportunidade de crescimento que essas novas fronteiras oferecem. Entretanto, elas não estão disponíveis para todos. Um dos personagens não é selecionado para o trabalho por possuir a "Síndrome de Matusalém", uma forma de envelhecimento precoce.

Esse é o capital humano de nossas corporações, segundo Ridley Scott. Jovens, fortes, disciplinados, e, fundamentalmente, descartáveis.

*Adjútor Alvim é o "Editor" do blog Casa de Tolerância


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