terça-feira, outubro 25

Arnaldo Jabor Defendendo Lula?

O comentarista da Rede Globo é um fervoroso crítico de Lula e do PT. Por isso, foi surpreendente quando li o texto abaixo no Luis Nassif Online, logo depois do acidente da TAM em Congonhas. À época, não tive a presença de espírito de salvá-lo mas agora consegui encontrá-lo graças a "O Lobo" , revista eletrônica que homenageia o falecido jornalista Fausto Wolf . Desta vez, não posso deixar de guardar para a posteridade a sempre iluminada mensagem de Arnaldo Jabor.

Jabor aponta seu dedo implacável e
diz que você se alegra com a tragédia


Quem tem coragem de ir à TV e dizer:
“O Brasil está melhorando!”, mesmo que esteja?

Sempre que há uma catástrofe nacional, irrompe uma euforia de cabeça para baixo. É como se a opinião pública dissesse: “Eu não avisei? Bem que eu falei, não adianta tentar”.
     Há um grande amor brasileiro pelo fracasso. Quando ele acontece, é um alívio. O fracasso é bom porque nos tira a ansiedade da luta. Já perdemos, para que lutar? O avião explodindo nos dá uma sensação de realidade. Parece o Brasil indo a pique – o grande desejo oculto da sociedade alijada dos podres poderes políticos, que giram sozinhos como parafusos espanados.
     Não é uma ameaça de CPI, não é um perigo de crash da Bolsa. É morte, gás e fogo. E nossa vida fica mais real e podemos, então, aliviados, botar a culpa em alguém. 
Chovem cartas de leitores nos jornais. Todas exultam de indignação moral, todas denotam incompreensão com o programa do governo de reformar o sistema, programa muito “macro”, mal explicado, “muito cabeça” para a população.
     Nada como um desastre, ou escândalo, para acalmar a platéia. E a oposição, aliada à oligarquia, usa bem isso. Danem-se as questões importantes, dane-se a crise externa, dane-se tudo. Bom é fofoca e denúncia. A finalidade da política é impedir o país de fazer política. Nada acontece, dando a impressão de que muito está acontecendo.

     Há uma tradição colonial de que nossa vida é um conto-do-vigário em que caímos. Somos sempre vítimas de alguém. Nunca somos nós mesmos. Ninguém se sente vigarista.

     O fracasso nos enobrece. O culto português à impossibilidade é famoso. Numa sociedade patrimonialista como Portugal do séc. 16, em que só o Estado-Rei valia, a sociedade era uma massa sem vida própria. Suas derrotas eram vistas com bons olhos, pois legitimavam a dependência ao rei. Fomos educados para o fracasso. Até hoje somos assim. Só nos resta xingar e desejar o mal do país.
 
     Quem tem coragem de ir à TV e dizer: “O Brasil está melhorando!”, mesmo que esteja? Ninguém diz. É feio. Falar mal do país é uma forma de se limpar. Sentimo-nos fora do poder; logo, é normal sabotar. O avião da TAM derreteu feito bala de açúcar na boca dos golpistas.

     O fracasso é uma vitória para muitos. Não fui eu que fracassei, foi o governo, o “populismo”. O maior inimigo da democracia é a aliança entre o ideologismo regressista e a oligarquia vingativa. Nossos heróis todos fracassaram. Enforcados, esquartejados, revoltas abortadas, revoluções perdidas. Peguem um herói norte-americano: Paul Revere, por exemplo. Cavalgou 24 horas e conseguiu salvar tropas americanas na Guerra da Independência. Foi o herói da eficiência. Aqui, só os fracassados verão Deus.

     O que moveu Pedro Simon e Arthur Virgilio foi a esperança do caos. Pedro Simon se acha o missionário da catástrofe. Ele é o ideólogo da explosão de furúnculos. Ele acredita no pus revelador. Virgilio quer levar em seu declínio o país todo com ele, cair destruindo, numa espécie de triunfo ao avesso. Ele é o último bastião do patrimonialismo tradicional, resistindo ao capitalismo impessoal.

     Espalhou-se a teoria de que o problema do Brasil é “moral”. Este “bonde” funk de neo-udenismo psicótico, este lacerdismo tardio, este trenzinho de “janismo” com “collorismo” visam impedir a modernização do país, sob a capa do “amor”. São a favor da moralidade, mas contra a lei de Responsabilidade Fiscal.

     Esta onda de moralismo delirante busca impedir a reforma das instituições que estimulam a imoralidade. Tasso tocando trombone sob um telhado de vidro é o grande exemplo. Arthur Virgilio, com boquinha de ânus e vozinha de padre, outro.

     Nossos intelectuais se deliciam numa teoria barroca da “zona” geral. O Brasil é visto como um grande “bode” sem solução, o paraíso dos militantes imaginários. Quem quiser positividade é traidor. A miséria tem de ser mantida in vitro, para justificar teorias e absolver inações. A academia cultiva o “insolúvel” como uma flor. Quanto mais improvável um objetivo, mais “nobre” continuar tentando. O masoquista se obstina com fé no impossível.

    Há um negativismo crônico no pensamento brasileiro. Paulo Prado contra Gilberto Freyre. Para eles, a esperança é sórdida, a desconfiança é sábia: “Aí tem dente de coelho, ‘alguma’ ele fez...”.

O "Cara"
Jamais perdoarão Lula por ter abandonado a utopia tradicional e aderido à “realpolitik”. Quase nenhum “progressista” tentou ajudá-lo nessa estratégia. Quem tentou, foi queimado como áulico, ou traidor, pela plêiade dos canalhas e ignorantes. Talvez tenha sido um dos maiores erros da chamada “social-democracia”, talvez a maior perda de oportunidade da história. Agora, os corruptos com que Lula se aliou para poder governar querem afogá-lo na lama. A “realpolitik” virou “shit politics”.

     Assim como o atraso sempre foi uma escolha consciente no século 19, o abismo, para nós, é um desejo secreto. Há a esperança de que, no fundo do caos, surja uma solução divina. “Qual a solução para o Brasil?”, perguntam. Mas a própria idéia de “solução” é um culto ao fracasso. Não lhes ocorre que a vida seja um processo, vicioso ou virtuoso, e que só a morte é solução.

     Vejam como o Brasil se animou com a crise atual. Ôba! É o velho Brasil descendo a ladeira! Viva! Os bons tempos voltaram!

Arnaldo Jabor

Arnaldo Jabor mesmo??????????????????

Agora a pegadinha. Tome-se o texto original e:  
P36 da Petrobrás afunda
levando 9 corpos
Onde se lê “o avião explodindo”, leia-se “plataforma afundando”;
  • Onde se lê “populismo”, leia-se “neoliberalismo”;
  • Onde se lê “o avião da TAM”, leia-se “a plataforma da Petrobrás afundando”;
  • Onde se lê “Pedro Simon”, leia-se: “Luiz Francisco”;
  • Onde se lê “Arthur Virgílio”, leia-se: “ACM”;
  • Onde se lê “Lula”, leia-se “FHC”;
  • Onde se lê “social democracia”, leia-se: “esquerda”;


Jornalista Luis Nassif
Não gostou?

Fazendo as trocas você terá o texto original de Jabor quando do acidente da plataforma P36 no governo FHC.

O autor da pegadinha foi o próprio Luis Nassif.

E então, o que você acha dos comentários do Arnaldo Jabor?

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