terça-feira, dezembro 6

Lula: de Sapo a Rei

 Adjútor Alvim*

Depois de um primeiro mandato marcado pelo escândalo do mensalão, Lula deixou o governo aclamado pela população e com uma liderança entre o mundo político inimaginável para quem correu sérios riscos de sofrer processo de impeachment. Por que terá acontecido essa virada? 
Seguem alguns fatores que marcaram seus dois mandatos e permitiram a transformação do sapo em príncipe, ou melhor, rei, porque príncipe era o outro.


Vestir a faixa não é fácil
Com o primeiro mandado, o PT assumia, pela primeira vez, o executivo federal. Seus quadros técnicos e políticos demoraram a aprender a lidar, do outro lado do balcão, com a máquina e com as negociações com os demais atores da sociedade. Muitos erros cometidos dever ser considerados como preço a se pagar pela consolidação pela uma nova alternativa real de poder; 


O diabinho de pé de ouvido
Nos dois primeiros anos de mandato, Lula fez uma composição com os rentistas. A campanha de 2002, com a fuga de capitais e a disparada do dólar, mostrou que a banca tinha condições concretas de desestabilizar o governo. E aí, não cabe juízo de valor se essas ações foram temores reais ou terrorismo eleitoral, e se a desestabilização seria feita de forma consciente ou em mero mecanismo de defesa natural e legítimo. Lula só teria condições de adotar políticas não financistas quando conseguisse legitimar-se via políticas sociais junto ao eleitorado e com a manutenção de um mínimo de austeridade fiscal. Esta última foi conseguida mais facilmente via Palocci e Meirelles. Já as políticas sociais, como seria de se esperar, demorariam a mostrar resultados junto à opinião pública; 

"Cadê o espetáculo do crescimento?"
Durante o terceiro ano de mandato, quando o Brasil ameaçava arrancar, o ministro da Fazenda Palocci errou na mão e segurou o crescimento. O próprio Lula reconhece isso, o que, provavelmente, ajudou na queda do ministro; 






Primeiro Ministro Dirceu
José Dirceu, por outro lado, enfrentava o embate com o Palocci, sua própria inexperiência, seu caráter mais político que gerencial e o acúmulo de funções na Casa Civil. Com isso, não conseguia organizar e dar andamento aos projetos. E essa função gerencial era fundamental para complementar o gênio político absoluto de Lula, capaz de absorver conhecimento rapidamente de seus interlocutores e arbitrar sobre temas complexos, mas inquieto a ponto de ser não conseguir ler textos maiores, não por falta de inteligência, mas de nível de concentração; 

Instintos primitivos
Em 2005, surgiram as crises de caixa 2 que deixaram o governo Lula sem a segunda de suas duas maiores fontes de legitimação ideológica junto às classes A e B. A primeira foi tirada pela conciliação com a banca e a adoção de ortodoxia fiscal. A segunda se foi com a perda de seu patrimônio ético. Lula virou o anti-cristo desse segmento social. Além disso, a própria necessidade de defesa do governo fez com que questões gerenciais ficassem de lado e o esforço fosse de salvação política.

Os motivos da virada


Crime e Castigo
Câmbio: o governo FHC segurou o câmbio no seu primeiro mandato e liberou no início do segundo. Foi o maior tiro no pé da história política brasileira. Os efeitos da liberação só começaram a fazer efeitos significativos no início do governo Lula quando o saldo comercial tornou-se positivo, cessou a necessidade de financiamento externo e o setor exportador, principalmente agronegócio, passou a ter enorme relevância, praticamente eliminando do curto prazo o risco de crise no balanço de pagamentos. Posteriormente, o câmbio voltaria a ficar apreciado, mas aí o círculo virtuoso já estava estabelecido; 

Reconhecimento nas urnas
Políticas sociais: Mesmo quando Palocci reinava, a política de transferência de renda, seja pelo Bolsa-Família, seja pelos aumentos do salário mínimo começou a surtir efeitos, fazendo com que a legitimidade política pelo governo fosse gradativamente recuperada, mas em segmento social distinto do antigo extrato de apoio ao PT. Os índices de popularidade de Lula voltam a subir após o vale da crise política e dão fôlego para tentar a reeleição; 



Daslu: polícia também para rico
Combate à corrupção: com os resultados obtidos pelo Polícia Federal e CGU, foi passada a mensagem que, sim havia corrupção no governo, mas que ela se concentrava principalmente no processo eleitoral, como práticas recorrentes e generalizadas de todo espectro político brasileiro.





Parcelas das classes A e B retornam à base de apoio de Lula e do PT, retomando um pouco da sustentação ideológica da distribuição de renda e ética;


Ele prioriza, ela executa
Nova organização do governo: Ao perder Palocci e Dirceu, Lula desistiu do modelo de partilha de poder e adotou um modelo mais colegiado de decisões políticas, ao mesmo tempo que concentrava em Dilma as questões gerenciais e se liberava para entrar diretamente no enfrentamento político. Se por convicção, circunstância ou golpe de sorte não cabe julgar. O ponto a se destacar é que a capacidade gerencial de Dilma permitiu o governo acelerar sua capacidade de execução; 


Alckimin é o PSDB na F1
Enfrentamento político: Com a queda de Dirceu como formulador político, Lula teve que sair a campo diretamente. Desafiado pelos órgãos de comunicação (vídeo Jornal Nacional e primeira capa da Folha) nos episódios dos aloprados e da sua ausência no debate, que levaram a eleição de 2006 para o segundo turno, Lula concentrou na sua figura a disputa política, partindo diretamente para o confronto. Isso ficou claro quando, no intervalo entre os dois turnos, quando veio a público dizer que os tucanos só sabiam vender e fez Geraldo Alckmin pagar o mico da década na política ao aparecer vestido de piloto de Formula 1 patrocinado pelo BB e Petrobrás; 

Comunicação regional: ao destinar recursos aos órgão de mídia regionais, o governo diminui o impacto do catastrofismo aleardeado pela grande imprensa e aproxima o cidadão de sua realidade do dia a dia, aumentando seu grau de independência para formação de opinião; 

Assembleísmo Petista?
Conciliação: curiosamente, se tratando do governo mais criticado pela imprensa, foi também o mais conciliador, com os diversos mecanismos de interação social propostos passando a gerar formulações políticas e administrativas que fizeram o governo ter visões de vários segmentos da sociedade sobre diversos assuntos e ser capaz se obter o apoio destes segmentos. Estes mecanismos, em especial o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, também como era de se esperar, demoraram a produzir resultados mais visíveis; 

De novo com a força do povo
Reeleição: Com a reeleição em 2006, Lula assegurou a legitimação de seu mandato posta em cheque pelos fatos expostos acima. Assim, reuniu capital político para um enfrentamento maior; 






"Fala Lula, Fala!"
Franklin Martins: Lula já tinha ido para o enfrentamento político diretamente, mas foi Franklin Martins quem o convenceu a dar mais entrevistas à imprensa a fim de contrapor a visão do governo às críticas que sofria. E aí, surge, mais uma vez, sua inigualável capacidade de comunicação, de fazer sua mensagem ser entendida. A população confrontando o discurso da Globo, o discurso do governo (Crise gravíssima x marolinha) e sua realidade no dia a dia, percebe a parcialidade nas opiniões da imprensa, posiciona-se ao lado do governo e encampa o discurso de Lula do preconceito das elites; 

Foi marolinha sim!
Crise de 2008: A superação da crise de 2008 foi, provavelmente, o ponto culminante desta trajetória, onde se pôs a prova a capacidade de um governo de esquerda e de um presidente operário de lidarem com uma crise aguda do capitalismo, invibializando politicamente o discurso da oposição (e da grande mídia) de que o governo seria uma continuação do governo FHC e só estava sendo bem sucedido pela situação externa.





 *Adjútor Alvim é o "Editor" do blog Casa de Tolerância

Um comentário:

  1. "as crises de caixa 2" ?
    Desculpe mais ai vc esta sendo militonto Alvim, o PT e outros estão no poder apenas para enriquecimento ilicito.
    Podemos ver isso na ascenção social de diversos componentes do governo.
    Durante 8 anos não houve a vontade politica de fazer se as reformas que o país necessita pq implica SEMPRE que algum setor terá seu privilégio reduzido.
    Lula governou 8 anos como um prefeito federal não como presidente de uma republica.
    Utilizou se dos mesmos vicios de que os prefeitos usam para manter se no poder cooptam veradores dão cestas básicas aos populares etc.
    Dilma se comporta como uma presidente da republica de verdade só mas e fraca para causar ruptura no sistema.
    No cerne de tudo isso esta a concentração de poder na esfera federal.Mas ai teriamos que rever o pacto federativo mas isso nem de longe esta na agenda politica brasileira.
    Ate as provincias chinesas tem mais autonomia que os estados brasileiros.
    +- 55% dos impostos gerados vão para o ente federal, estados e municipios que tem obrigações constitucionais severas ficam com o resto.

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